Pós-graduações IMED 2013

domingo, 15 de janeiro de 2012

A frenologia e a avaliação do comportamento

Mesmo que houvessem indícios pré-cristãos de que o cérebro estava relacionado com o comportamento, estudos mais sistematizados sobre a anatomia e a fisiologia do cérebro buscando compreender cientificamente o seu funcionamento datam do século XIX. Uma destas tentativas de compreensão é a frenologia.

A frenologia foi uma área sistematizada por Franz Joseph Gall por volta do fim do século XVIII e início do século XIX. Tinha por pressuposto que regiões diferentes do cérebro seriam responsáveis pelo controle de determinadas funções. Mapear estas regiões e mensurar o seu tamanho seriam os pontos de partida para uma correta avaliação do comportamento.

Franz Gall. Fonte: digitalgallery.nypl.org

O cérebro era entendido como um órgão composto por outros órgãos, onde cada um destes "compartimentos" ou regiões era responsável por uma faculdade mental específica. O uso de uma destas  faculdades faria com que a região aumentasse de tamanho, o que poderia ser aferido pela mensuração das áreas do crânio aumentadas ou diminuídas. Desta forma, seria possível avaliar o perfil de personalidade das pessoas: medindo cristas e depressões do crânio, indicativos de um funcionamento maior ou menor de uma faculdade mental. Se uma região estava aumentada, a pessoa poderia ter uma atrofia no comportamento "honestidade", ou se estava com um leve afundamento, significava que poderia ter menos "esperança no futuro". Desenvolveu instrumentos para medir estas regiões do crânio, e foi um dos primeiros a estabelecer estatisticamente características de comportamento com estas medidas. O estudo da personalidade com base nestes pressupostos foi batizado de frenologia, ou estudo da alma/espírito (clique na imagem para ver a descrição das regiões, em inglês).


A frenologia competiu, por um bom tempo, com as idéias de Jean Pierre Flourens, que defendia que o cérebro funcionava como um "todo", sem partes especializadas. Muito da sustentação de Flourens baseava-se no estudo do aprendizado de ratos: ele observou que os ratos conseguiam resolver um labirinto, mesmo com remoção de partes substanciais do encéfalo. Assim, defendia que o cérebro, como um todo, era responsável pelo comportamento. Nenhuma destas correntes permaneceu como dominantes, mas contribuíram para uma compreensão do funcionamento modular do cérebro, que foi teorizada posteriormente por Santiago Ramón y Cajal. Hoje, a frenologia faz parte da história, mas ainda se encontram pseudocientistas defensores destas idéias.

Estudos posteriores demonstraram que o cérebro realmente possui regiões especializadas, e que é possível estudá-las. Entretanto, esta especialização está longe daquilo que Gall defendia; as funções especializadas do cérebro dizem respeito a habilidades mais básicas, como o processamento da imagem, processamento auditivo e associação de conceitos, e é a integração destas funções que permitem a complexidade do comportamento humano.

Fonte: KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSEL, T. M. Cérebro e comportamento. In: ______. Fundamentos da neurociência e do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997. Cap. 1, p. 5-15.

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